Memorial
Um dia irão recordar-se de minha barba. Não de mim, mas sim da barba. Ela será meu retrato assim como a fofoca na mesa do bar. Será o motivo do cochicho em meu velório. É da barba que debocharão meus netos e bisnetos. É ela quem sai e entra de moda. Tola barba. É ela que será o símbolo de minha luta. E será a recordação de momentos passados. Será o leve coçar em dias de cachimbo e chuva. Companheira barba. Inocente vida, farta barba. Em meio a presentes é duradoura. Entre homens de ternos é pecadora. A barba é na verdade o mito da liberdade contemporâneo. Seu singelo semblante nos remete ao descaso. Muitas vezes confundido com vagabundagem, por observadores de menor introspecção. Não enxergam a revelação do futuro, quando miram a mim. Pois, Um dia irão recordar-se de minha barba. Não de mim, mas sim da barba.