Lobos Contemporâneos

Recai à noite bem graceja, estendendo suas garras preenchidas de mistérios sombrios sob os muros e construtos da densa floresta urbana. Perigosos predadores sedentos de sangue despertam de suas nefastas covas ou de seus lúgubres covis obscuros para então farejarem o ar na ânsia de sua presa. Quando em quando emitimos, tu e eu, nossos uivos solitários e esperançosos em meio a esta sutil desesperança. Outros lobos podem ouvir-nos? Uivam também em estepes solitárias e insulares? Nesse jogo de urros dialéticos padece o cão, a raposa e a ovelha. Uivamos por não sermos leões ou por não sermos leões uivamos?
Pobres muros de concreto e granito, não lembram vós da antiga boêmia? Quando corriam soltos os seresteiros e suas amadas por teus ilustres labirintos; quando o sangue era vinho tinto ou quando os gritos e gemidos eram canções? Que virá então, no amanha vindouro? Existe um dragão nos tempos modernos que se põe a explicar esta questão e seus dogmas são inquestionáveis. Mas o que posso fazer com colossal criatura, sou eu um lobo uivando para a noite enquanto a torre mágica roça o umbigo da lua. Uivemos lobos e lamentemos a perda do passado enquanto nossas coleiras são preparadas para o futuro.

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