O Pirata Caolho

Sempre na forma de avatar, um retrato ou um arauto. Um sorriso largo na face do mensageiro que relembra as verdades que há muito tempo escondemos. Sempre um infeliz ser expõe teu caminho. Quando tudo ia tranqüilo, numa fria manha de sábado. Eis que surge por bocas mórbidas a revelação do passado. Nua, cortante e desconcertante. Dilacerando alma, futuro e as estações. É como o sol se pondo em um dia lindo primaveril. É como a nuvem cinza em dias de luto. É a chuva outonal caindo nas folhas de ipê. De fato, o cão ladrando pecados até então esquecidos. Na morte, o esquecimento. Na vida, a culpa. O recalque do inconseqüente, o tesouro da amnésia. Das belas partes pouco se repõe, das tempestades ficam as marcas. De todas as criaturas da face do globo azul, és banquete em especial de uma delas. Do lobo, inóspito rival do ego. Este sorve cada gota tua, oh passado, e o saboreia entre presas que esboçam um sorriso sarcástico. Cada gemido provocado pela simples revelação do que se foi, gera um g

O eterno próximo passo. O por vir inalcançável que carrega um sabor de certeza, mas que não passa de mera esperança. A cada suspiro, cada encontro, cada devaneio, cada choro, cada sonho, cada minuto o evento fatídico se aproxima. Não é possível acelerá-lo, muito menos retardá-lo. Ele vem tão certo quanto a morte. A morte, talvez a única que pode conte-lo, este bravio desconhecido intitulado futuro. Mas esta solução custa um preço demasiado alto, é necessário aguardar, conter o desespero e derreter-se em angustia. Falta sono, falta determinação, faltam unhas. Voa existência e acabe com tudo agora, ou pare de uma vez e deixe-me sorver este momento sem fim. Esta sanfona, movimento do ego ilusório, dilacera o jovem e maltrata o sábio. Futuro, de fato quem não se decide és tu! Por hora estas tão longe, mas quando me distraio te aproximas a velozes passos. Não existe inconsistência em mim, mas sim nesta entidade. Futuro, o Tempo tem teus dias contados.