Miragem

Durante a aurora do dia pensava eu com meus botões: feliz era João batista que vivia no deserto e comia gafanhotos com mel silvestre.
Sem qualquer razão de causa, motivo ou reflexão me alerta um cidadão: “Estás louco meu irmão, o deserto é um lugarejo horrível onde há sede, fome e morte. Imagina uma fogueira, se tirares um carvão da brasa logo se apaga e não queima mais”. Ora amigo meu, louco sempre fui como Isaias antes de mim, pensa agora no que dizes meu conterrâneo. Pois não acredito que um cidadão possa acreditar que um deserto é um lugar horrível quando ele mesmo mora na civilização, ao dizer tal blasfêmia não leva em consideração as inúmeras vitimas da fome, os assassinados e tantas outras almas injustiçadas. O deserto é horrível? Não ouso afirmar isto e tenho temor de dizer algo estupidamente parecido. Aquele que anda sem vendas na selva de pedra entende o que vos digo. Quanto a carvão e fogueira e coisa que o valha é simples. Pega o carvão e o coloca na fogueira e este logo se extinguira, queimara por alguns segundos e logo se tornara cinzas. E se o carvão for homem, morrera, pois voltara de onde veio. Nunca vi uma defesa tão criminosa e desesperadora.
E foi assim que durante o brilho do luar me deitei cantando cantigas que me lembravam do mar.

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