Sussurro

Hoje a fumaça soprou pelos portões
do alvorecer.
E toda a natureza resplandecia ao meu redor.
Um pássaro sobrevoando os edifícios pergunta:
Quem habita aquela janela?
A iluminada janela.
Quanto a mim? Apenas observava a curiosa cena.
Um forte vento surgiu pelo norte,
Atravessou os edifícios e rodopiou pela minha varanda.
Um vento negro com aspecto maligno
que obscureceu o nebuloso horizonte.
Questionei como imagens sublimes surgem
naqueles que não podem reproduzi-las em telas?
Como misteriosas idéias povoam a mente
daqueles que não podem registrá-las?
Quantas canções rondam os corações daqueles que não cantam?
O fétido vento negro grunhiu-me um sorriso
e debandou-se pela torrente leste.
Lembrei que o homem é cinco. Limitadamente cinco.
Exceto quando o vento sopra as cores.
A dor é vermelha e a poesia é metáfora.
O vento soprou a fumaça para longe dos portões do alvorecer
levando-a para as águas turbulentas do rio.
O rio que tudo leva e nada cobra.
O rio que tudo leva.

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