Meu nome é Drake Blake, Drake de nascença e Blake por opção.
Os fatos que narrarei envolvem grande parte da minha vida e todos são baseados em meu ponto de vista, contudo, muitos irão refutar a maioria dos acontecimentos e me rotularão como louco.
Nasci em um pequeno vale ao oeste de Algaround, mais precisamente em um acampamento cigano. De meus progenitores recordo vagamente, apenas o perfume dos cabelos de minha mãe e a voz melodiosa de meu pai. É certo contudo que quando completava cinco anos de minha existência, meu povo iniciou suas corriqueiras viagens pelo vasto mundo. Embarcamos em um grande navio com destino a Sembia, do outro lado do mar, sem saber que esta viagem mudaria minha vida. O que ocorreu fora que após sete dias no mar uma praga se abateu sobre a embarcação, ceifando desta forma a metade dos tripulantes. De alguma maneira peculiar, esta praga era extremamente eficaz contra minha tribo o que a aniquilou por completo, deixando a mim somente como exceção. É isto pelo menos que me recordo.

O velho capitão Blake logo me tornou parte de sua tripulação e me ensinou tudo que um homem deve saber, como dar um bom nó em uma corda, como pressentir a mudança da maré, averiguar as condições do vento, a seduzir uma mulher e como manusear um sabre. Após longos doze anos não era de se admirar que já me tornara o pirata mais hábil das costas de Sembia e já realizara atos temíveis em duelos perigosos em alto mar.
Entretanto as coisas começaram a mudar devido a um joguete dos deuses. Certa noite enquanto fazíamos uma dessas contumazes travessias entre Sembia e Aglaround, tínhamos por acompanhante um certo homem ruivo chamado Sharess. Um homem por demasiado recalcado que despendia a maior parte de seu tempo reservado em sua cabine. Era de poucas palavras e quando falava o fazia por sussurros, como se alguém invisível pudesse nos ouvir. Nunca havia dirigido-me a palavra até esta ocasião, era a terceira noite de viagem, ele se aproximou de mim enquanto eu fazia a ronda no convés. Logo me abordou e começou um questionário infindável sobre minha origem e historia, fazendo-me perguntas sem fim, respondi a todas sem nada a temer e por fim ele retirou-se. O resto da viagem prosseguiu normalmente e após alguns dias estávamos novamente na costa de Aglaround. Recordo-me que fizemos algumas pilhagens em navios mercantes locais e logo depois volvemos ao mar, para retornarmos a Sembia. Quando chegávamos próximo a costa Sembiana é que o malditoso toque dos deuses intrometeu-se em minha vida e a transformou em uma desordenada avalanche sem tempo para pausas. Um rápido veleiro negro aproximou vindo do norte e em poucos minutos se colocava em posição de ataque, nos preparamos rapidamente para a batalha com armas em punho. Doravante nossas armas se mostraram inúteis, pois a própria deusa da escuridão caminhava ao lado daquela fragata. Fomos engolfados por dezenas de bolhas negras que segavam nossa visão. Enquanto ouvia os gemidos de morte de meus companheiros, fui tomado de pânico e atirei-me ao mar, tomado de extrema angustia e com muito ardor nadei até a praia e corri pela minha vida.
Depois de muitas horas eu estava sentado em frente a uma lareira em uma taverna qualquer do porto, tomando uma boa dose de rum para acalmar os nervos. Tentava desesperadamente organizar o raciocínio até que por fim embriaguei-me. Quando cantava alegremente com o bardo do local servindo-me de mais uma dose de rum, percebi a entrada de um estranho no recinto. Um homem de idade com uma longa barba branca adentrava a taverna, pela sua aparência pude deduzir precisamente, El minster o sábio do Vale das Sombras. O velho sentou-se isolado em uma mesa e ascendeu misteriosamente seu cachimbo, pude vislumbrar que me fitava por horas a fio, não pestanejei e abordei o velho mago. O homem insistia-me que não era o famoso mago, mas o que posso pensar, eu também não diria se assim o fosse. Ele então falou sem parar por enigmas alegando que eu corria perigo e deveria rumar para Cormyr onde um grupo de conhecidos dele poderia me ajudar. Concordei plenamente, sorri, bebi e dei um tapinha em suas costas. É claro que eu não iria até o reino vizinho de nobres boçais nem mesmo que Mystra me pedisse em pessoa. No dia seguinte eu infiltrei-me em uma caravana e viajei ao norte até as bordas de Cormanthor, em uma pequena aldeia para obter abrigo e proteção. Trabalhava como lenhador, e lecionava na escola local uma vez que fui alfabetizado pelo falecido capitão Blake. Nesta época adotei o nome do bom capitão. Todavia os problemas pareciam me perseguir e num fim de tarde enquanto trabalhava na orla da floresta pude ouvir palavras estranhas sendo proferidas nas sombras, palavras arcanas, em seguida adormeci.
Encontrava-me agora em uma cela de pedra, semelhante a uma caverna, contudo uma das paredes era uma prodigiosa porta de ferro. Estava amarrado a uma cadeira e sentia uma leve dor de cabeça, a minha frente havia três estranhas figuras. Dois homens e um elfo, os homens vestiam armaduras de cotas de malhas e possuíam longas espadas na cintura, quanto ao elfo trajava um manto amarelo com um z enegrecido rodeado por um circulo. Disseram-me tolamente que pertencia a uma facção criminosa denominada Zhentarin e que queriam respostas e tinham meios de consegui-las. Quando porem iriam iniciar a tortura pude ouvir sons de combate e eles saíram apressados. Logo eu estava correndo pela floresta com um grupo de Harpistas, um grupo de aventureiros que lutam em prol da igualdade. Quando eu os interroguei sobre a operação de resgate apenas alegaram que fora coincidência e que nada sabiam a meu respeito, algo duvidoso é claro. Como era de se esperar vagamos por Cormanthor, a grande floresta, por algum tempo, até que os problemas me alcançaram novamente. Na quarta noite, nosso acampamento foi surpreendido por uma emboscada de elfos negros e uma batalha terrível teve inicio. No fim, encontrava-me prisioneiro novamente de seres cruéis e insanos. Os drows levaram somente a mim como prisioneiro, contudo pareciam apressados como se temessem algo. Lembro-me que andamos por algumas horas quando pude ouvir alguns zunidos terríveis. Em alguns minutos a fila de marcha dos elfos negros se tornara uma massa caótica e surpresa, o elfos da floresta de Cormanthor salvavam minha vida e ainda não entendo o motivo. Os três meses seguidos foram de tranqüilidade entres os elfos, e pude conhecer um pouco de sua cultura e língua. Contei aos seus sábios sobre minha historia e aparentemente isto lhes interessou por demais. Dessa forma, disseram que eu deveria ter ouvido o velho mago e rumado para Cormyr, mas novamente não os dei atenção, afinal sou eu quem faço minhas escolhas e lhes falei que desejava ir ao norte longínquo conhecer as famosas geleiras. Uma vez que não puderam me persuadir escoltaram-me ate a borda norte de Cormanthor e despediram-se amigavelmente desejando sorte e coisa que o valha. Viajei pelos ermos sozinho, me alimentando de vermes e frutas, sempre seguindo ao norte. Fora contudo na terceira noite que avistei algo incrível com esses olhos que os peixes irão devorar, um verdadeiro exercito marchava sob o descampado abaixo da colina que me encontrava. Milhares de orcs marchavam em direção ao oeste e seus tambores ressoavam pelo vale. Fiquei os observando durante toda a noite e ao amanhecer não conseguia mais avistá-los. Sentindo-me seguro prossegui minha viajem, até chegar a uma nova cidade portuária onde poderia arranjar uma embarcação até o reino de Damara. Na taverna local consegui facilmente alistar-me em um navio que partiria no dia seguinte, porem não pude deixar de perceber um estranho encapuzado acompanhado de uma mulher a me fitar a noite inteira no salão da estalagem.
A viagem prosseguiu comumente sem grandes problemas até a metade de seu percurso, o estranho encapuzado também parecia seguir o mesmo curso que eu, pois encontrava-se na embarcação. Pois bem, na noite que passávamos do ponto que demarcava a metade da viagem, ouviu-se um grito estridente no convés e todos rapidamente correram para lá. O vigia jazia estatelado no chão com uma seta no pescoço, contudo felizmente conseguira gritar um alarme pouco antes de falecer. Seus assassinos frustrados por perderem a surpresa foram obrigados a iniciar um combate aberto e pelas suas perícias não ousaria descartar a possibilidade de fazerem parte de alguma organização criminosa. A situação estava difícil e a maioria dos guardas do navio não eram rivais para os assassinos. Um de meus inimigos ao olhar-me nos olhos gritou, é ele! Assim encurralaram-me e teria perecido não a intervenção do misterioso encapuzado. Neste momento ele saltou do alto do mastro como uma onça feroz e arremeteu-se contra meus perseguidores, logo suas espadas curvadas rodopiavam sob as cabeças dos mesmos. Com este lance de sorte a mesa foi virada e saímos vitoriosos. As cimitarras céleres de meu salvador foram embainhadas e ele se apresentou, um rosto negro como a noite assomou-se da escuridão e pude perceber que aquele era um elfo drow como aqueles que me aprisionaram. Drizzt então esclareceu que havia sido mandado pelo velho mago que eu havia encontrado na taverna para me auxiliar na travessia e sabia pelo o que eu estava passando, sabia o que era ser perseguido pela aparência e falou muitas coisas mais, nada que fizesse muito sentido, eu apenas concordava relutante. Por fim chegamos a Damara onde logo no porto nos despedimos, o elfo negro aconselhou-me a seguir meus instintos e não depender meramente da vontade dos deuses. Assim que caminhava pelos becos daquela cidade, fui surpreendido por um velho mago, não tão velho quanto aquele em Sembia. Thingel foi como ele denominou-se e perguntou-me diretamente se eu gostaria de lhe fazer uma favor em troca de uma boa quantidade de ouro e conhecimento sobre meus perseguidores. Pelo grande mar interno é claro que sim, disse eu.
Após isto, o velho guiou-me pelas ruelas até uma antiga construção onde pediu que eu entra-se. O lugar parecia um enorme laboratório, muito diferente do que era por fora. Ali Thingel deu-me este livro e uma pena e pediu que eu descreve-se minha trajetória até aqui.

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